domingo, 13 de março de 2011

Para garantir Copa, Inter está prestes a fechar acordo com construtora


Presidente do clube admite pressão da Fifa e governo federal por garantias da reforma do Beira-Rio

A polêmica em torno do modelo de administração da reforma do Beira-Rio, que ameaça a realização de jogos da Copa do Mundo de 2014 no estádio, poderá ser decidida em reunião do Conselho Deliberativo do clube marcada para o dia 14 de março.

Na noite desta quarta-feira, o Conselho se reuniu em encontro já considerado histórico por alguns conselheiros. A direção atual do clube, encabeçada por Giovanni Luigi e pelo executivo-chefe (CEO) do clube, Aod Cunha, apresentou os argumentos favoráveis à parceria com a Andrade Guitierrez para reforma do estádio. Em troca, o clube daria a concessão de novas áreas comerciais que serão criadas (o clube manteria as receitas atuais, como ingressos de jogos e áreas de publicidade no estádio).
Foi a primeira vez que a direção colorada expôs publicamente os detalhes da proposta da empreiteira.

O Comitê Organizador Local (COL) da Copa vem exigindo garantias financeiras para a obra desde o ano passado. Se elas não forem apresentadas, especula-se a possibilidade de transferir os jogos da Copa para a Arena do Grêmio, o que representaria um desgaste político para o Inter.
Embora o COL não tenha estipulado um prazo para a apresentação das garantias, Luigi admite que a pressão por uma decisão aumentou.
“Em nenhum momento, por escrito ou verbalmente, o comitê estipulou datas”, disse. Mas Luigi afirmou que recebeu dois telefonemas do comitê nas últimas semanas em busca de informações sobre o andamento da polêmica. Na semana passada, o ministro do Esporte Orlando Silva desembarcou em Porto Alegre e manifestou preocupação com a demora do Inter para tomar uma decisão.

Divisão
Segundo o modelo apresentado na reunião do Conselho, a Andrade Gutierrez teria direito a explorar o shopping center previsto no novo projeto do Beira-Rio, um edifício-garagem para três mil veículos, patrocínio ao nome e a setores do estádio (naming e sector rights), cadeiras vips e suítes.
Além de se comprometer a concluir a obra dentro das exigências da Fifa, a construtora teria o compromisso de construir o novo centro de treinamento do clube.

Recursos próprios

Desde que o Beira-Rio foi aprovado pela Fifa para os jogos do Mundial, o clube vinha trabalhando com o modelo de autofinanciamento da obra. O Inter pretendia pagar a reforma com recursos provenientes da venda do antigo Estádio dos Eucaliptos (o que rendeu cerca de R$ 28 milhões) e com a locação antecipada das novas suítes do estádio. Das 100 suítes previstas no projeto, 26 foram locadas até o momento.
Na manhã desta quinta-feira, em entrevista coletiva, Luigi e Aod foram enfáticos na defesa do modelo de parceria. Para eles, a imprevisibilidade do ritmo das locações e das exigências da Fifa poderia causar um rombo no fluxo de caixa do clube, obrigando a direção a buscar dinheiro em outras áreas, como o futebol, para garantir o cumprimento do cronograma acertado com a Fifa.
“O clube não consegue, no modelo de autofinanciamento, arrecadar a verba necessária para concluir a obra a tempo da Copa”, declarou Luigi. “A única proposta que parou de pé e que resolve as circunstâncias da obra é esta da parceria”, disse, por sua vez, o CEO do clube, Aod Cunha.

Sem lucro
Na reunião do Conselho, o modelo de autofinanciamento foi defendido por integrantes da direção passada. O ex-presidente Vitório Piffero, que deixou o cargo em janeiro, usou argumentos econômicos para justificar a realização da obra com recursos próprio.

Segundo ele, o Inter poderá arrecadar até R$ 900 milhões com as novas áreas criadas no estádio ao longo de 20 anos, já descontado o montante gasto na obra. Para os críticos da parceria, os lucros do novo Beira-Rio serão entregues à Andrade Guitierrez por duas décadas.
Também foi levantada uma terceira alternativa, de contratação de um empréstimo indireto do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) através da linha ProCopa Arenas. Os recursos não estão disponíveis para clubes privados, mas o Inter tentaria buscar uma instituição que pudesse bancar o repasse do financiamento.
De acordo com Cunha, a hipótese perdeu força uma vez que o clube já procurou 11 instituições financeiras, e nenhuma se mostrou disposta a realizar o repasse.
A intensidade do debate forçou a convocação de um novo encontro no dia 14. Segundo Luigi, a disposição da atual direção é a de propor a votação do novo modelo na próxima reunião. Caso as discussões se estendam, um novo encontro pode ser marcado para 15 de março somente para a votação.
O presidente colorado disse que as obras continuam e que a diretoria vai se esforçar para concluir a reforma para a Copa mesmo que a parceria seja rejeitada pelos conselheiros. “O Conselho é soberado e o que ele decidir a gestão vai assumir e colocar todos os esforços para tocar adiante”, falou.

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